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“Administrar o Operário como empresa”, disse o presidente do grupo gestor sobre a conquista da Série C

Foto: José Tramontin/OFEC

Em seus 106 anos de existência no futebol brasileiro, o Operário Ferroviário Esporte Clube, da cidade de Ponta Grossa, no interior do Paraná, ainda comemora o feito histórico de sair do Brasileiro da Série D ano passado para disputa da Série B de 2019. Para alcançar esse feito, o Fantasma na partida decisiva empatou em casa com Cuiabá em 3 a 3 e carimbou o título na vitória fora por 1 a 0.

Com uma filosofia empresarial com muito trabalho e planejamento, o presidente do grupo gestor do Operário, José Álvaro Góes Filho, de 57 anos, quando jovem atuou por clubes amadores, assumiu em outubro de 2014. De Ponta Grossa, o mandatário explicou sobre a ascensão no futebol brasileiro, os segredos para esse feito, o futuro na Série B ano que vem, entre outros temas alusivos à boa campanha em âmbito nacional.

SPORTSMANAUS – Como foi o planejamento do clube para chegar na conquista do Brasileiro da Série C, mas principalmente da vaga na Série B de 2019?

PRESIDENTE – Nós montamos uma equipe após 2017, quando fomos campeões do Brasileiro da Série D de deixar principalmente uma base, e isso foi feito. Mantivemos o treinador, trouxemos mais algumas peças para completar o time que faltava, com isso, alcançamos o resultado. O importante não era ser campeão, mas alcançar o objetivo de estar na Série B, Graças a Deus, o Operário quando entrou na Série D alcançou seu objetivo e manteve o calendário, isso também facilitou a meta de classificar para Série B, porque fizemos uma programação desde 2017.

SPORTSMANAUS – Como o senhor define o trabalho realizado nessa ascensão meteórica do Operário saindo da Série D e agora chegando na Série B de 2019?

PRESIDENTE – Não vejo como uma ascensão meteórica, mas sim como um trabalho bem planejado, desde o início. Entrei nessa barca em outubro de 2014 para disputar e cuidar do Operário. Meu pensamento era administrar como empresa, e assim está sendo feito até hoje. Fizemos um bom trabalho em 2015 sendo campeões Paranaense. Em 2016 veio o rebaixamento, mas com isso, eu principalmente aprendi muito. Nós fizemos uma programação em 2017 para alcançar os objetivos de subir da Série D, depois para Série C. Todo trabalho foi planejado desde a pré-temporada para que alcançássemos os objetivos, inclusive voltar a Série A do futebol paranaense. Planejamento e trabalho, isso foi o mais importante.

SPORTSMANAUS – A campanha do Operário é semelhante da Chapecoense, quando saiu da Série D para elite do futebol brasileiro. O senhor revelou que pretende visitar alguns clubes, para saber um pouco mais sobre essa trajetória vitoriosa?

PRESIDENTE – É muito importante para algum aprendizado, eu não sou dono da verdade, muito pelo contrário. A equipe que trabalha no clube ninguém ganha um tostão, nossa diretoria trabalha por amor ao Operário, mas sempre é bom trocar experiência, pois isso tenho dentro da minha empresa. Pode se crescer muito, não se copia, mas as coisas boas do concorrente é bom pegar para aperfeiçoar e melhorar. A visita a Chapecoense temos marcado para mês que vem, vamos no clube e conversar, assim como, no São Bento-SP, enfim, saber desses times como é o trabalho, mas com humildade e dedicação vamos chegar lá.

SPORTSMANAUS – Para conseguir esse feito, a equipe vem mantendo uma base, sendo já confirmados 18 jogadores para próxima temporada. Isso é fundamental para alcançar bons resultados?

PRESIDENTE – Esse assunto de manter uma base eu vejo como muito importante, as vezes as pessoas falam “já deu, já venceu o prazo desse jogador no clube”, mas é muito importante ter jogadores sérios e trabalhadores, sendo até exemplos para outros. Uma base fica muito mais fácil não só para o treinador, mas para todos. Isso é fundamental, as peças que chegam vão se adaptando. Trocar um time e colocar em um campeonato, até se adaptar com a comissão técnica, preparadores físicos, com próprio técnico, leva tempo e demanda. Nosso time vem mantendo uma base, e isso vem dando uma sustentação ao elenco.  

SPORTSMANAUS – Quando o clube tem um calendário definido, facilita na manutenção de uma base e captação de patrocinadores na sequência da temporada?

PRESIDENTE – Quando o clube tem um calendário definido, carece disso, pois quando o Campeonato Paranaense terminava morria o time, ou seja, ficavam as dívidas, pagava as contas e se jogava um ano depois. Qualquer time do Brasil para fazer sua programação tem que ter um calendário, pois tudo fica mais fácil para montar uma base e fazer contratos longos. Por exemplo, o jogador Simão, se não tivéssemos calendário teríamos perdido o jogador na partida com Cuiabá. Isso foi importante, porque temos contrato a longo prazo. Como falo sempre, o time que não tem calendário, não tem futuro

SPORTSMANAUS – A disputa da Série B requer um planejamento muito maior, mas principalmente um elenco mais qualificado, pois teoricamente os jogos serão mais difíceis. O que está sendo feito nesse sentido?

PRESIDENTE – Acho que a Série B não tem muita diferença, mas claro é preciso ter mais elenco. Nós estamos programando isso, tem que ter praticamente três times de futebol para jogar, porque é um campeonato em que se joga duas vezes na semana. É muito importante ter atletas, devido a cartões, jogadores lesionados, enfim, é bom ter uma boa pré-temporada, um bom trabalho físico, pois faz a diferença. Por isso, mantivemos a base, e agora é buscar atletas que venham a somar com todos do time para alcançar nosso objetivo.

SPORTSMANAUS – O Operário não está dentre os grandes clubes do Paraná. Qual foi o diferencial para conseguir essa ascensão no futebol brasileiro?

PRESIDENTE – O Operário não está dentre os grandes times, mas hoje faz parte. Vejo o clube como quarto do Paraná e digo o terceiro em torcida com o sócio-torcedor, ou seja, temos quase 6 mil sócios-torcedores passando o Paraná Clube. Isso é fruto de um trabalho, onde o diferencial é a credibilidade diante da sociedade, as empresas e o torcedor. Isso nós dá tranquilidade para que possamos trazer cada vez mais sócios-torcedores, ter condições de montar um time competitivo e fazer o planejamento acima de tudo. O Operário se continuar nessa ascensão, com toda certeza, em breve estará na Série A do Brasileiro.

SPORTSMANAUS – Durante a campanha na Série C, qual foi o momento mais crítico, que o deixou temeroso sobre o futuro do time na competição?

PRESIDENTE – O momento mais crítico na Série C foi no jogo com o Cuiabá, quando tomamos de 4 a 0 na primeira fase fora de casa. Lembro bem quando cheguei no vestiário e estavam todos jogadores cabisbaixo, parecia que tinha morrido alguém, meus diretores só diziam “se mantivermos na Série C está muito bom. Com certeza, tínhamos time para virar, aquele momento foi crucial. Chamei todos no vestiário, dei um esporro, disse que uma derrota não mata o time, pelo contrário, foi uma lição e vamos aprender muito. A partir dali, os jogadores, a diretoria, nossa comissão técnica passaram a acreditar cada vez mais. Com isso, o Operário começou sua ascensão no Brasileiro da Série C.

SPORTSMANAUS – A filosofia de trabalho implantado pelo senhor e seu grupo de trabalho no clube pode ser considerado um modelo?

PRESIDENTE – Acho que principalmente o modelo de gestão, é empresarial, ou seja, não gastar mais daquilo que se arrecada, claro se for preciso contratar um jogador pontual que venha fazer alguma diferença. Já tive a experiência quando trouxe um gringo pagando em dólar em 2016, na qual culminou com nosso rebaixamento. Você estraga seu elenco, por isso, é bom ter jogadores homogêneos, com mesmo nível de salários, sendo que alguns diferenciados precisam ganhar um pouco mais. Quando entrei no clube foi para administrar como uma empresa, de profissionalizar, e isso estamos fazendo. O Operário precisa fazer isso, e não temos hoje nenhuma dívida, nenhum imposto atrasado, nenhuma ação trabalhista. É muito importante o clube alcançar seus objetivos e trabalhar com muito mais tranquilidade.

SPORTSMANAUS – Como é realizar um trabalho em um clube, que não está entre os maiores do Paraná e conseguir essa ascensão no futebol brasileiro?

PRESIDENTE – É um privilégio, me sinto muito lisonjeado, confortável com isso. Saio na cidade e vejo a comoção do povo, e até querem me levar para ser prefeito. Tudo isso é fruto de um trabalho que deu certo, honesto, não ganho nada, muito pelo contrário, tiro dinheiro do meu bolso para pagar as contas do clube, mas por amor a cidade onde nasci, pois sempre falei que um dia daria esse retorno. Quando as coisas dão certo todos gostam, por isso, todos sem exceção estão de parabéns.

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